No plantio dum roçado
Em meados de janeiro
Um preto foi acusado
De roubar um candeeiro
Sem demora foi levado
Pro pior cativeiro
Sem direito a advogado
Sem um juiz verdadeiro
Apanhou feito um coitado
Resistiu como um guerreiro
Isso seria lembrado
No império inteiro
Vasculharam a senzala
Na manhã do mesmo dia
Encontraram uma espada
De aroreira que luzia
Lembrança de sua infância
Presente de uma tia
Foi usada como prova
De sua grande rebeldia
E o preto foi surrado
Com tamanha covardia
Que por todos os lugares
O seu sangue se esvaía
Suas últimas palavras
Foram para sua guia
Nossa Senhora, perdoa
Quem não sabe o que fazia
Tempo seguiu sua trilha
Mas ainda sinto o cheiro
Do jasmim e da orquídea
De onde ele foi jardineiro
Hoje o preto é mensageiro
Pela voz de sua filha
E a sua espada brilha
Lá em cima do terreiro